A Peste negra é o nome dado a uma pandemia de peste bubônica que ocorreu durante a Baixa Idade Média, que devastou a Europa durante o século XIV e dizimou entre 25 e 75 milhões de pessoas, mais ou menos um terço da população europeia, porém, alguns pesquisadores acreditam que o número mais perto da realidade seria o de 75 milhões de pessoas, sendo então, praticamente a metade da população europeia na época.
Essa doença é causada por uma bactéria denominada por Yersinia pestis, em que é transmitida para o ser humano através das pulgas dos ratos-pretos ou outros roedores. As pulgas dos roedores recolhem a bactéria do sangue dos animais infectados, e quando estes morrem, procuram novos hóspedes.
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A bactéria consegue se multiplicar no intestino da pulga, então liberta bactérias na pele da vítima, infectando cães, gatos e seres humanos. A bactéria entra na linfa através de feridas ou microabrasões na pele, como a da picada da pulga e também por inalação de gotas de líquido de espirros ou tosse de indivíduo doente.
Infecção inicial – A Peste
A condição inicial para o estabelecimento da peste foi a invasão da Europa pelo rato preto indiano Rattus rattus, sendo hoje extremamente raro de se encontrar.
O rato preto não trouxe a peste para a Europa, mas os seus hábitos mais domesticados e mais próximos das pessoas criaram condições para a rápida transmissão da doença.
Os guerreiros mongóis que, após a sua conquista da China, foram infectados na região a sul dos Himalaias pela peste, já que essa região alberga um dos mais antigos reservatórios de roedores infectados endemicamente existente até hoje e então mediadores da infecção das populações de roedores das planícies da Eurásia, da Manchúria à Ucrânia. Então, a região da Europa, China e Oriente Médio foram atingidas simultaneamente pela peste.
A peste na Europa
Surgiu em outubro de 1347 e matou praticamente todos os tártaros. Vários navios genoveses fugiram da peste, indo atracar aos portos de Messina, Génova, Marselha e Veneza, com os porões cheios dos cadáveres dos marinheiros.
Da península Itálica, espalhou-se através da Europa, atingindo a Grã-Bretanha e Portugal em 1348 e, na Escandinávia, em 1350.
Portugal
Em Portugal, a peste entrou no outono de 1348. Matou entre um terço e metade da população, segundo as estimativas mais credíveis, levando a nação ao caos. Portugal passou por três pandemias, a última grande epidemia aconteceu em 1650.
China
As primeiras descrições da peste na China relataram os casos ocorridos em 1334 na província de Hubei, aparentemente casos isolados.
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Entre 1353 e 1354, com a China sob domínio dos mongóis, uma epidemia muito mais extensa ocorreu, nas províncias de Hubei, Jiangxi, Shanxi, Hunan, Guangdong (Cantão), Guangxi e Henan. Os autores da época estimaram que cerca de 90% da população teria sido dizimada na época.
Oriente Médio
A doença entrou na região pelo sul da estepe, atual Rússia, em 1347. No final de 1348 já estava no Egito, Palestina e Antioquia, espalhando a morte. Meca foi infectada em 1349, sendo a doença trazida pelos peregrinos para o Hajj, e depois o Iémen em 1351. Estimasse que tenha morrido cerca de um quarto da população da época.
A terceira epidemia
A terceira epidemia ocorreu no século XIX, mas a sua disseminação foi efetivamente travada pelos esforços das equipes sanitárias.
A partir de 1855 espalhou-se por toda a China, ameaçando os europeus de Hong-Kong em 1894, o que levou ao envio de equipes de médicos e bacteriologistas para a região. Esta pandemia matou 12 milhões de pessoas na China e Índia.
A medicina e a peste
O primeiro investigador a considerar a peste negra uma doença infecciosa foi Rhases, um médico árabe, no século X. As primeiras medidas eficazes de saúde pública foram tomadas nos portos mediterrânicos europeus. A quarentena permitia aos portuários verificar a presença da peste e conter a sua disseminação eficazmente, sequestrando os ocupantes de um navio durante um período superior ao da incubação da doença.
No entanto foi quando da Terceira Pandemia que começou a investigação científica mais séria sobre a doença, por investigadores trabalhando na Ásia nos anos de 1890. O francês Paul Louis Simond identificou a pulga dos roedores como principal vetor de transmissão. Em 1894, em Hong Kong, o bacteriologista suíço Alexandre Yersin isolou pela primeira vez a Yersinia Pestis, e determinou o seu modo de transmissão, tendo sido homenageado com a nomeação a partir do seu nome da espécie responsável.
Também em 1894 o médico japonês Shibasaburo Kitasato identificou independentemente o bacilo responsável. A última epidemia de peste na Europa ocorreu na Ucrânia e Rússia em 1877-1889, nas regiões da estepe (Urais e Cáspio). Graças às medidas de contenção, morreram apenas 420 pessoas.
Progressão e sintomas
A bactéria entra por pequenas quebras invisíveis da integridade da pele. Daí espalha-se para os gânglios linfáticos, onde se multiplica.
Após no máximo sete dias, em 90% dos casos surge febre alta, mal estar e os bubos, que são protuberâncias azuladas na pele. As bactérias invadem então a corrente sanguínea, onde se multiplicam causando peste septicêmica.
A peste septicêmica caracteriza-se pelas hemorragias em vários órgãos. As hemorragias para a pele formam manchas escuras, de onde vem o nome de peste negra. Do sangue podem invadir qualquer órgão, sendo comum a infecção do pulmão.
A peste pneumônica pode ser um desenvolvimento da peste bubônica ou uma inalação direta de gotas infecciosas expelidas por outro doente. Há tosse com expectoração sanguinolenta e purulenta altamente infecciosa. A peste inalada tem menor período de incubação (2-3 dias) e é logo de início pulmonar, sem bubos. Após surgimento dos sintomas pulmonares a peste não tratada é mortal em 100% dos casos.
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Mesmo se tratada com antibióticos, exceto se na fase inicial, a peste tem ainda uma mortalidade de 15%.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito por recolha de amostras de líquido dos bubos, pus ou sangue e cultura em meios de nutrientes para observação ao microscópio e análise bioquímica.
Prevenção
Evitar o contato com roedores e erradicá-los das áreas de habitação é a única proteção eficaz. O vinagre foi utilizado na Idade Média, já que as pulgas e as ratazanas não gostam do seu cheiro.
A peste é de comunicação obrigatória às autoridades. Contatos de indivíduos afetados ainda hoje são postos em quarentena durante seis dias.
Tratamento
Os antibióticos revolucionaram o tratamento da peste, tornando-a de agente da morte quase certa em doença facilmente controlável. São eficazes a estreptomicina, tetraciclinas e cloranfenicol. Tratamentos mais recentes vêm utilizando também a gentamicina e a doxiciclina com resultados eficazes.
Notificação
A peste é uma doença de notificação compulsória internacional e deve ser comunicada imediatamente, pela via mais rápida, às autoridades sanitárias. A investigação é obrigatória.
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